FILHOS E FILHAS DE DEUS: O QUE ISTO SIGNIFICA? – Carta de São Paulo aos Gálatas (4ª parte)

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FILHOS E FILHAS DE DEUS: O QUE ISTO SIGNIFICA? – Carta de São Paulo aos Gálatas (4ª parte)

Irmãos e irmãs muito amados!

No encontro passado refletimos sobre a mensagem central da Carta aos Gálatas. Na verdade, consiste num princípio que é fundamental para a convivência humana. É o princípio da fraternidade entre todas as pessoas. Princípio que nos leva a não discriminar ninguém. Pelo contrário, leva-nos a nos interessar verdadeiramente pelo bem-estar de todos, sem exclusão: “Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher…” (Gl 3,28). Nós estamos ligados uns aos outros; somos um só corpo com muitos membros… Por isso precisamos cuidar uns dos outros e de tudo o que Deus nos deu para podermos viver com dignidade. Esta consciência é própria de pessoas que atingiram a maturidade em Cristo Jesus: não agem como escravas de normas e leis e sim como filhas de Deus! É o que nos mostra São Paulo, na Carta aos Gálatas. Vamos refletir sobre o que diz o capítulo 4.

Deus, nosso Pai (Gl 4,1-11)

A principal preocupação de São Paulo nesta carta aos Gálatas é convencer os participantes das comunidades cristãs de que a fé em Jesus Cristo os torna livres das obrigações impostas pela lei judaica. Eram obrigações que impediam as pessoas de agirem com liberdade, conforme as inspirações do Espírito Santo. Há uma grande diferença entre o agir por obrigação e o agir por convicção, seguindo a vontade de Deus. As obrigações são dadas enquanto a pessoa ainda é de pouca idade, não tendo ainda a capacidade de discernir. Com a vinda de Jesus Cristo passou o tempo da menoridade. Agora, “chegou a plenitude dos tempos”. O filho de Deus se encarnou no meio de nós. Submeteu-se à Lei em solidariedade com todos os que estavam a ela submetidos. Não nos deixou, porém, nesta condição de escravos. Ele nos libertou das amarras legalistas e nos introduziu na condição de filhos e filhas de Deus, herdeiros de suas promessas de salvação.

Portanto, para Paulo, esta condição oferecida por Jesus Cristo proporciona uma nova mentalidade, um novo jeito de viver, um novo modo de se relacionar e de conviver. Todos agora, sem exceção, poderão dirigir-se a Deus com o mesmo espírito de Jesus que clama: “Aba, Pai”. Conhecendo e adorando a Deus como Pai de todos, não haverá mais lugar para outros deuses, para o culto ao imperador, para práticas supersticiosas, para atitudes discriminatórias ou para apegos ao que é transitório.

A prática do amor mútuo (4,12-20)

A convicção de que todos somos filhos e filhas de Deus nos compromete a uma vida de fraternidade que se desdobra em acolhimento uns dos outros, em mútua confiança, em auxílio gratuito a quem necessita… Paulo, com gratidão, lembra aos gálatas de como foi acolhido por eles na primeira vez que por lá passou. Estando doente foi socorrido e recebeu todo o cuidado como alguém da própria família. Assim ele escreve: “Vocês não me desprezaram e nem me rejeitaram, antes me acolheram como um enviado de Deus, como Cristo Jesus”. Porém, pelas informações que Paulo estava recebendo, o carinho e o amor dos gálatas pareciam atitudes do passado.

De fato, muitos já não tinham a mesma estima por Paulo, influenciados pelo grupo dos judaizantes. Estavam sendo enganados pela pregação dos que queriam impor a necessidade da circuncisão e de outras normas judaicas. Como Paulo poderia continuar amando aquela comunidade que ele fundou, diante deste novo desafio? Ele volta a insistir na verdade do Evangelho que liberta, mesmo com a possibilidade de desagradar os que estavam apegados ao legalismo. Pois, sua intenção não era atrair para si próprio a simpatia da comunidade e sim atrair o maior número de pessoas para Cristo. Ele assim procede, tendo a mesma dedicação e o mesmo cuidado de uma mãe ao gerar os seus filhos e educá-los em vista de sua verdadeira realização. É imbuído deste carinho materno que Paulo evangelizava pelo mundo afora.

Duas Mães, duas Alianças (4,21-31)

São Paulo vai buscar na Sagrada Escritura os argumentos que provam que Cristo veio inaugurar o verdadeiro caminho de vida e de liberdade para todos. Baseado no livro de Gênesis (especialmente nos capítulos 16 e 21) tomou a história das mulheres de Abraão – Sara e Agar – e a interpretou de modo que os cristãos e as cristãs pudessem entender a importância do que pregava.

Ele faz uma alegoria de Sara e Agar como representantes de duas Alianças. Agar é descrita como escrava de Sara e Abraão: dela nasceu Ismael, sendo, portanto, filho de escrava. Foi gerado segundo a natureza. Sara, mulher livre, da qual nasceu Isaac. Foi gerado segundo a promessa que Deus fez a Abraão. Agar representa a Aliança do monte Sinai, onde Moisés recebeu a Lei que virou legalismo que escraviza. Destes dois filhos surgiram duas descendências: uma de escravos e outra de livres. Representam duas cidades opostas uma da outra: a Jerusalém terrena, que é o sistema judaico, escrava do legalismo e a Jerusalém celeste, herdeira das promessas divinas, livre do sistema legalista. Sara era estéril e, no entanto, gerou um filho conforme Deus prometera; assim também a Jerusalém celeste considerada estéril por não seguir leis e normas, tornou-se a mãe de uma multidão de filhos e filhas pelos méritos de Jesus Cristo. Dela fazem parte os seguidores e seguidoras de Jesus: “Não somos filhos da escravidão e sim da liberdade”.

E para nós hoje?

A Palavra de Deus nos ajuda a sermos melhores a cada dia. Ela nos indica o caminho que deve ser trilhado segundo a vontade de Deus. Portanto, de cada texto bíblico podemos tirar lições para o nosso tempo. Algumas lições a partir do capítulo 4 da Carta aos Gálatas:

  1. É importante que tenhamos consciência do que significa ser filho ou filha de Deus.

Ao confessarmos que Deus é nosso Pai, estamos nos comprometendo a abandonar as idolatrias que nos escravizam: o culto ao dinheiro, à busca do prestígio pessoal, ao consumismo… Significa comprometer-se a cuidar uns dos outros, com especial atenção às pessoas que sofrem.

  1. Seguir a Jesus por convicção é sinal de maturidade. Significa fidelidade ao que é

bom e verdadeiro, ao que é justo e honesto sem deixar-se arrastar pelas ideias dominantes (que normalmente são ideias difundidas pelos poderosos em vista de seus próprios interesses).

  1. Paulo se relacionava com as comunidades cristãs como uma mãe cuida de seus

filhos. É um exemplo para todos nós, especialmente para os que exercem alguma função de liderança tanto na Igreja como na sociedade: agir com ternura e misericórdia, suscitando o que existe de melhor no coração de cada pessoa. Para isso é necessário abandonar atitudes de superioridade, de clericalismo, de autoritarismo…

Para dialogar em pequenos grupos:

  1. Ler, reler e comentar o capítulo 4 da Carta aos Gálatas.
  2. O que mais nos chamou a atenção neste capítulo. Por que?
  3. Qual das três lições acima colocadas consideramos a mais urgente?
  • Preces espontâneas e concluir com o texto: Gl 3,26-29.

Celso Loraschi

 loraschi@facasc.edu.br

 

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